domingo, 27 de abril de 2008

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: O QUE A ESCOLA TEM A VER COM ISSO?

Não se pode negar que a situação sócio-econômica acrescida da falta ou precariedade educacional são responsáveis por um número altíssimo de violência. Fator este característico de países subdesenvolvidos como é o caso do Brasil. Desta forma, percebe-se que uma preocupação mais direcionada dos profissionais da saúde, educação, assistência social, psicologia, enfermagem, agentes de saúde, etc., podem estar identificando esta problemática e buscando soluções, através de um atendimento qualificado, bem como assumindo a postura de denunciadores, contribuindo, desta forma, para a solução desta chaga que tanto tem aterrorizado crianças e adolescentes. Mas, o que a escola tem a ver com isso? Não somente a escola. Todos nós temos uma grande responsabilidade para com uma educação de qualidade que se preocupe com o ser de forma integral. Está na hora de nos indignarmos com as mazelas desta sociedade desigual e injusta, onde a relação de poder predomina e o sujeito passa a ser propriedade da outra pessoa, ou de um sistema excludente e desigual. Nós educadores, nós professores temos um papel fundamental na construção de uma sociedade ética. A criança tem toda confiança no adulto e por isso tornar-se tão vulnerável diante deste a ponto de aceitar e suportar seus maus-tratos. Da mesma forma que vê no adulto seu espelho, que lhe serve como modelo. O primeiro ambiente de vivência e socialização da criança é o familiar, em segundo lugar está a escola, depois a igreja e assim sucessivamente. Portanto, é a escola que divide a responsabilidade com a família na educação da criança e, em muitos casos, passa a ser a única instituição a exercer esta função, uma vez que a família torna-se omissa ou transgressora de sua função. Isto não quer dizer que a escola, agora, deva trazer para si a responsabilidade que é da família, mas sim contribuir para que esta possa tomar consciência do seu papel, a partir das lições de esclarecimento e denúncia das agressões para os órgãos competentes. Temos que unir forças no combate à violência e reverter esse quadro cruel e vergonhoso.
Para uma melhor compreensão deste fenômeno, vejamos a definição e caracterização das principais violações a que este texto se propõe a explicitar, no sentido
de que devemos estar atentos e com isso poder contribuir na elucidação desta prática tão desumana.
- Violência Física - é a mais fácil de ser identificada e também a mais freqüente. Está geralmente associada à disciplina e punição. A criança e o adolescente que sofre este tipo de violência pode apresentar sintomas de ansiedade, depressão, baixa auto-estima, desajuste social, comportamento agressivo, além de apresentar queimaduras, machucaduras, marcas, fraturas. Esta violência pode causar sérios danos do ponto de vista emocional para a criança, levando-as, na maioria das vezes, a se comportar de forma tão agressiva quanto ao tratamento que recebe. Uma criança que vive num ambiente de muita violência tem grandes chances de ser um adulto também violento, reproduzindo a história de seus antecessores. - Abuso Sexual - é o envolvimento da criança e do adolescente com qualquer tipo de contato sexual, pois a mesma não tem condições, ainda, de agir por si só, não há consciência do consentimento. Aqui, o sujeito está violando as regras sociais, são as situações de afago, estupro, incesto, prostituição, etc., que geralmente tem início na primeira infância. A criança pode apresentar alterações comportamentais do tipo: ansiedade, depressão, baixa auto-estima, distúrbio do sono, pesadelos, desajuste social, comportamento sexualizado, desconforto genital e anal, chegando até ao relato verbal de incesto, assédio, exploração e estupro. Neste caso, a história pode ser muito mais importante que o exame físico, pois este nem sempre confirma as situações onde não há penetração vaginal ou anal. - Abuso Psicológico - esta violência está presente em todas as demais, mas também pode ocorrer de forma isolada. Suas características mais constantes são: ansiedade, depressão, baixa auto-estima, desajuste social, prejuízo mental e sintomas psicopatológicos. É causada geralmente por humilhação, isolamento, exploração, rejeição, degradação, terrorismo. Pode ser constatada pela observação e relato verbal de atos de hostilidade e agressividade. Em casos extremos pode levar a pessoa a cometer suicídio. - Negligência - está relacionada ao descaso dos pais para com seus filhos, tanto na assistência, quanto ao provimento de suas necessidades básicas, tais como saúde, alimentação, educação, respeito, afeto etc. Esta violência é muito comum, chegando às vezes a ser confundida com o estado de pobreza de muitas famílias que se utilizam desta condição agindo de forma irresponsável no tratamento de seus filhos. As conseqüências desta violência podem ser ansiedade, depressão, baixa auto-estima, desajuste social, comportamento tímido/retraído, vestimenta inadequada, higiene pobre, má nutrição, problemas de saúde, abandono. As causas para a descrição de tal comportamento do adulto no tratamento às crianças e adolescentes podem ser encontradas em diversos fatores que vão desde o despreparo (desconhecimento) até os transtornos de personalidade do adulto (doença). PIRES (2000) sintetiza alguns destes fatores, tais como:
¨ Repetição da história de violência na infância;¨ Isolamento social;¨ Gravidez na adolescência;¨ Promiscuidade dos pais (vários parceiros);¨ Falta de apego dos pais para com os filhos;¨ Incapacidade de lidar com situações de estresse (perda do controle);¨ Uso de drogas, álcool;¨ Baixa escolaridade;¨ Desemprego;¨ Pais com transtornos psicológicos, emocionais e de personalidade.

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