domingo, 27 de abril de 2008

(In) disciplina - uma questão de postura
Problemas disciplinares são uma questão de “falta de limites”. Os limites são apresentados em 3 dimensões: os limites a serem transpostos, os limites a serem respeitados e os limites para intimidade.A primeira dimensão está relacionada à função máxima da intervenção – encorajar as crianças a conhecer seus próprios limites, a fim de transpô-los. Isso é a condição para o desenvolvimento humano: crescer é superar limites, construindo estruturas cada vez mais complexas e abrangentes. Essa dimensão assegura, por exemplo, a possibilidade de grandes descobertas, afinal, através do rompimento dos limites do seu tempo, os seres humanos modificam a história, inventando, entre outras coisas, a luz elétrica, o avião, telefone e tantos outros recursos tão importantes no mundo moderno.A segunda dimensão está relacionada aos limites que precisam ser respeitados; limites criados pelo homem para organizar o mundo social, que trazem em si a idéia do “proibido”. Certamente, não há necessidade de criar uma lei que proíba as pessoas de pisar sobre brasas, mas para uma série de outras situações ela se faz necessária. Nessa dimensão, situamos a nossa liberdade em relação à construção da sociedade. Mas o que é liberdade? Como a construímos? Sabemos que não há como conquistar a liberdade fora do eixo social e político – portanto, ela só existe nas relações interpessoais. Não há como destituir da liberdade o atributo político/social; restringindo-a somente ao atributo da vontade, confundiríamos liberdade com livre arbítrio. O valor da liberdade está diretamente relacionado à importância da responsabilidade. A terceira dimensão porém não menos importante, refere-se aos limites que precisam ser construídos para preservar a nossa intimidade. Essa dimensão é assegurada na Constituição Brasileira, estabelecendo a diferença entre o privado e o público. O respeito à privacidade e o controle do acesso dos outros à nossa intimidade são condições fundamentais para a construção de uma personalidade sadia e para a conquista da autonomia.Quando compreendemos as três dimensões educacionais do limite e o conceito de liberdade associado à responsabilidade – o maior impasse educativo encontra-se em discernir se o limite é um convite para o outro lado – transposição – ou uma ordem para respeitar as fronteiras. Quanto mais conhecemos nossos alunos e adentramos o restrito espaço de uma convivência, descobrimos que são criaturas ávidas por limites, interessados pelas descobertas que ultrapassem o óbvio, desde que sejam tocados pelo educador de forma inteligente, estabelecendo e gerenciando vínculos positivos.Partindo, então, do pressuposto de que o ser humano, por natureza, é ávido por aprender, salvo patologias, se a intervenção do educador obtiver êxito coordenando a intencionalidade de sua área e a característica diretiva de sua função – estaremos contribuindo para o desenvolvimento de uma disciplina intrínseca, norteada pela tenacidade e perseverança, qualidades fundamentais do trabalho humano de conhecer seus limites.

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